Guia Definitivo do Corinthians: História, Títulos e a Governança do Timão do Povo

O Sport Club Corinthians Paulista, uma das agremiações mais populares e vitoriosas do Brasil, possui uma história intrinsecamente ligada à classe trabalhadora e à identidade paulistana. Fundado sob o ideal de ser o “time do povo”, o Corinthians transcendeu o campo de jogo para se tornar um fenômeno social e político, colecionando títulos nacionais e internacionais, e mantendo uma gestão que, embora tradicionalmente associativa, busca a modernização e a transparência.
Raízes e Mística: A Fundação Operária e o Batismo Inglês
A história do clube começa na noite de 1º de setembro de 1910, à luz de um lampião, na esquina das ruas José Paulino e Cônego Martins, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Foi fundado por um grupo de cinco operários — Anselmo Corrêa, Antônio Pereira, Carlos Silva, Joaquim Ambrósio e Raphael Perrone — que, inspirados pela passagem da equipe inglesa Corinthian Football Club pelo Brasil, decidiram criar um time que fosse acessível a todos, sem distinção social [1]. O primeiro presidente, o alfaiate Miguel Battaglia, proferiu a célebre frase que se tornaria o lema do clube:
“O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time.”
Os primeiros anos foram de rápida ascensão. Em 1914, o Corinthians conquistou seu primeiro título, o Campeonato Paulista, de forma invicta, com 10 vitórias em 10 jogos, solidificando sua presença no cenário esportivo paulista
[2].
A Luta e o Triunfo: O Fim do Grande Jejum (1954-1977)
Após um período de grande sucesso nas décadas de 1920, 1930 e 1950, o Corinthians enfrentou seu maior desafio: um longo jejum de títulos que durou quase 23 anos, de 1954 a 1977. Este período, embora de escassez de taças, forjou a mística de resiliência e fidelidade da torcida, que jamais abandonou o time, cunhando o apelido de “Time do Povo”.
O jejum foi encerrado de forma épica em 13 de outubro de 1977, com a conquista do Campeonato Paulista sobre o arquirrival Ponte Preta, em uma final emocionante. O gol decisivo, marcado pelo atacante Basílio, não apenas garantiu o título, mas também libertou a alma corintiana, tornando-se um dos momentos mais celebrados da história do clube.
O Movimento Político: A Democracia Corinthiana
No início dos anos 80, o Corinthians se tornou o palco de um dos movimentos mais notáveis e politizados do esporte mundial: a Democracia Corinthiana
[3]. Liderado por ídolos como Sócrates, Wladimir e Casagrande, o movimento defendia a autogestão do futebol, onde todas as decisões eram tomadas por meio de voto, com o mesmo peso para jogadores, comissão técnica e diretoria.
A Democracia Corinthiana coincidiu com o processo de redemocratização do Brasil, e o time usava sua visibilidade para promover a causa, entrando em campo com faixas como “Diretas Já” e “Eu Quero Votar”. O movimento não apenas trouxe títulos (Paulistas de 1982 e 1983), mas também elevou o Corinthians a um patamar de símbolo de liberdade e consciência política.
As Eras de Ouro: Do Primeiro Brasileiro à Tríplice Coroa

O Corinthians viveu diferentes fases de glória, marcadas por elencos inesquecíveis e conquistas inéditas.
A Década de 90: O Domínio Nacional e a Era dos Craques
A década de 90 marcou a consolidação do Corinthians no cenário nacional, com a conquista de seus primeiros títulos brasileiros e a formação de elencos estrelados.
| Título | Ano(s) | Destaques |
|---|---|---|
| Campeonato Brasileiro | 1990, 1998, 1999 | O primeiro título brasileiro em 1990, com Neto, e o bicampeonato consecutivo de 98/99, com Marcelinho, Edílson e Rincón. |
| Copa do Brasil | 1995 | Primeiro título da Copa do Brasil, com Marcelinho Carioca e Viola. |
| Campeonato Paulista | 1995, 1997, 1999 | O tricampeonato estadual na década, reafirmando a força paulista. |
O ápice dessa fase foi a conquista do Mundial de Clubes da FIFA em 2000, o primeiro organizado pela entidade, disputado no Brasil. O Corinthians superou o Vasco da Gama na final, no Maracanã, com a consagração do goleiro Dida na disputa de pênaltis.
A Era Tite e a Tríplice Coroa Invicto (2011-2013)
A fase mais vitoriosa e sólida do Corinthians ocorreu sob o comando do técnico Adenor Leonardo Bachi, o Tite. Após a volta por cima na Série B em 2008, o clube se reestruturou e alcançou o patamar de campeão mundial.
O auge dessa era foi a inédita conquista da Copa Libertadores da América em 2012, de forma invicta, com uma defesa sólida e um ataque cirúrgico. A final contra o Boca Juniors (ARG) no Pacaembu, com dois gols de Emerson Sheik, é um marco na história do clube.
Ainda em 2012, o Corinthians alcançou o topo do futebol mundial ao vencer o Mundial de Clubes da FIFA no Japão, derrotando o Chelsea (ING) na final com gol de Paolo Guerrero. O goleiro Cássio foi eleito o melhor jogador da competição, consolidando a defesa como o pilar da equipe.
A sequência de títulos foi coroada com a Recopa Sul-Americana de 2013, sobre o São Paulo, completando a “Tríplice Coroa” continental e mundial em um curto espaço de tempo.
Títulos Históricos: Do Mundial de 2000 ao Invicto da América

O Corinthians é um dos poucos clubes brasileiros a ostentar o título de Bicampeão Mundial de Clubes da FIFA e o único a ter conquistado a Copa Libertadores de forma invicta.
O Bicampeonato Mundial de Clubes da FIFA
O clube conquistou o mundo em duas ocasiões, ambas reconhecidas pela FIFA, demonstrando sua força em diferentes épocas:
- Mundial de Clubes da FIFA 2000: Sediado no Brasil, o Corinthians venceu a primeira edição do torneio, superando o Vasco na final.
- Mundial de Clubes da FIFA 2012: No Japão, o time de Tite venceu o Chelsea, campeão europeu, com uma atuação histórica de Cássio e o gol de Guerrero.
Principais Conquistas do Corinthians
| Competição | Títulos | Anos de Conquista |
|---|---|---|
| Mundial de Clubes da FIFA | 2 | 2000, 2012 |
| Copa Libertadores da América | 1 | 2012 (Invicto) |
| Campeonato Brasileiro | 7 | 1990, 1998, 1999, 2005, 2011, 2015, 2017 |
| Copa do Brasil | 3 | 1995, 2002, 2009 |
| Recopa Sul-Americana | 1 | 2013 |
| Campeonato Paulista | 30 | 1914, 1916, 1922, 1923, 1924, 1928, 1929, 1930, 1937, 1938, 1939, 1941, 1951, 1952, 1954, 1977, 1979, 1982, 1983, 1988, 1995, 1997, 1999, 2001, 2003, 2009, 2013, 2017, 2018, 2019 |
| Torneio Rio-São Paulo | 5 | 1950, 1953, 1954, 1966, 2002 |
Ídolos e Lendas: Do Doutor à Muralha
A galeria de ídolos do Corinthians é vasta e reflete a paixão e a história de luta do clube.
Sócrates, o Doutor
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o “Doutor” (por ser formado em Medicina), é um dos símbolos máximos do Corinthians. Atuou de 1978 a 1984, sendo o líder intelectual e esportivo da Democracia Corinthiana. Sua elegância em campo, passes de calcanhar e consciência política o tornaram um ícone global, transcendo o futebol.
Cássio, a Muralha
Cássio Ramos é o goleiro mais vitorioso da história do clube e um dos maiores ídolos da era moderna. Contratado em 2012, foi o herói da Libertadores e do Mundial daquele ano, com defesas memoráveis. É o jogador com mais títulos na história do Corinthians e um dos recordistas em número de jogos, sendo a “Muralha” de uma das fases mais gloriosas do Timão.
Outros Nomes Lendários e a Mística Corinthiana
- Neco: Primeiro grande ídolo, atacante e artilheiro do primeiro título.
- Rivellino: Craque com a “Patada Atômica”, um dos maiores de todos os tempos, ídolo da década de 60/70.
- Luizinho (Pequeno Polegar): Terceiro maior artilheiro e segundo em jogos, símbolo da década de 50.
- Neto: Maestro e artilheiro, capitão do primeiro título brasileiro (1990).
- Marcelinho Carioca (Pé de Anjo): Maior artilheiro de faltas, campeão mundial e brasileiro, ídolo da década de 90.
- Rincón: Capitão colombiano, símbolo de garra e liderança nos títulos de 98, 99 e 2000.
- Wladimir: Jogador com mais partidas na história do clube (806 jogos), símbolo da Democracia Corinthiana.
Governança e Transparência: A Neo Química Arena e a Busca por Modernização
O Sport Club Corinthians Paulista é uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, e sua gestão é regida por um Estatuto Social
[4].
Estrutura de Poder e Governança
A estrutura de poder do Corinthians é tradicionalmente associativa, baseada na participação de seus sócios:
- Assembleia Geral: Instância máxima, composta pelos sócios.
- Conselho Deliberativo: Órgão de fiscalização e deliberação, composto por membros eleitos.
- Conselho de Orientação e Fiscalização (CORI): Atua como auditoria interna, fiscalizando as contas e a gestão administrativa.
- Diretoria Executiva: Responsável pela gestão diária, liderada pelo Presidente eleito.
A Neo Química Arena e o Desafio Financeiro
A inauguração da Neo Química Arena em 2014, construída para a Copa do Mundo, marcou uma nova era estrutural para o clube. O estádio, com capacidade para cerca de 49 mil pessoas, é um ativo fundamental para a geração de receitas. No entanto, o financiamento e a gestão da dívida da Arena representam o principal desafio financeiro e de governança do clube na era moderna.
A Reforma Estatutária e a Profissionalização
Em um movimento de modernização, o Corinthians tem discutido uma profunda reforma estatutária que visa aprimorar a governança e a gestão. Os principais pontos em discussão incluem:
- CEO (Chief Executive Officer): Criação da figura de um CEO profissional, selecionado por processo público, responsável pela gestão operacional diária e pela execução da estratégia do clube
[5].
- SAF (Sociedade Anônima do Futebol): O anteprojeto de reforma estatutária abre a possibilidade para a criação de uma SAF, mas com a condição de que o Corinthians Associativo mantenha o controle majoritário (acima de 50% das ações), garantindo que o clube permaneça nas mãos dos associados e da Fiel Torcida
[6].
- Voto para Sócio-Torcedor: A reforma também prevê a criação de uma nova modalidade de sócio-torcedor com direito a voto, um passo significativo para a ampliação da participação da Fiel Torcida nas decisões políticas do clube
[7].
A busca pela profissionalização, a superação dos desafios financeiros da Arena e a ampliação da participação popular através da reforma estatutária são os pilares da atual gestão, visando garantir a longevidade e a competitividade do “Timão do Povo” no cenário do futebol global.
Referências
[1] Corinthians. História: 1910 a fundação. [URL: https://www.corinthians.com.br/clube/historia]
[2] Corinthians. Títulos: Campeonato Paulista (1914). [URL: https://www.corinthians.com.br/clube/titulos]
[3] GE. Democracia Corinthiana: o que foi e como funcionou o movimento que marcou o futebol brasileiro. [URL: https://ge.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/democracia-corinthiana-o-que-foi-e-como-funcionou-o-movimento-que-marcou-o-futebol-brasileiro.ghtml]
[4] Corinthians. Transparência: Estatuto Vigente. [URL: https://www.corinthians.com.br/clube/transparencia]
[5] UOL Esporte. Corinthians: reforma do estatuto prevê sócio-torcedor com direito a voto e ampliação de mandatos. [URL: https://www.uol.com.br/esporte/ultimas-noticias/agencia/2025/10/27/corinthians-reforma-do-estatuto-preve-socio-torcedor-com-direito-a-voto-e-mandatos-mais-longos.htm]
[6] GE. Projeto de reforma do estatuto prevê SAF no Corinthians, mas com requisitos e limitações; entenda. [URL: https://ge.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2025/10/27/projeto-de-reforma-do-estatuto-preve-saf-no-corinthians-mas-com-requisitos-e-limitacoes-entenda.ghtml]
[7] Terra. Corinthians: reforma do estatuto prevê sócio-torcedor com direito a voto e ampliação de mandatos. [URL: https://www.terra.com.br/esportes/corinthians/corinthians-reforma-do-estatuto-preve-socio-torcedor-com-direito-a-voto-e-ampliacao-de-mandatos,952e6d2fcdd9690f6f900459739cac288j74ha3z.html]

Engenheiro, Técnico, com foco em Engenharia de Telecomunicações e sistemas de comunicação via satélite. Casado, Pai de 2 filhos. Cidadão de bem e brasileiro.
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