
O Fluminense Football Club representa muito mais que um clube de futebol. Fundado em 21 de julho de 1902, no bairro das Laranjeiras, foi o primeiro clube do Brasil a incluir “football” em seu nome, estabelecendo desde o início uma vocação pioneira que marcaria toda sua trajetória. Considerado o único clube da América Latina detentor da Taça Olímpica de 1949, o Fluminense é também o único clube de futebol do mundo com seu nome inscrito nesta honraria concedida pelo Comitê Olímpico Internacional.
Esta instituição centenária consolidou-se como uma das maiores potências do futebol brasileiro, conquistando quatro títulos brasileiros (1970, 1984, 2010 e 2012) e, em seu momento de glória máxima, vencendo a Copa Libertadores da América de 2023 ao derrotar o Boca Juniors por 2 a 1 no Maracanã, em 4 de novembro.
As Origens Aristocráticas: Oscar Cox e o Nascimento do Futebol Carioca
A Fundação e o Espírito Pioneiro
Oscar Cox, precursor do futebol no Rio de Janeiro e filho de um cidadão inglês, fundou o Fluminense em 21 de julho de 1902. A escolha do nome “Football Club” não foi casual: representava a ambição de criar uma instituição genuinamente dedicada ao esporte bretão, que ainda engatinhava no Brasil.
As cores iniciais eram cinza e branco, mas devido às dificuldades em encontrar tecidos cinza, foram trocadas dois anos depois por verde, branco e grená. Esta transformação cromática tornou-se emblemática, estabelecendo a identidade visual que perdura até hoje e que conquistou admiradores em todo o mundo.
O primeiro jogo oficial aconteceu em 19 de outubro de 1902, contra o Rio Football Club, no campo do Payssandu em Laranjeiras, com vitória esmagadora do Fluminense por 8 a 0. Este placar profético anunciava o que estava por vir: uma era de domínio e inovação no futebol brasileiro.
O Templo Tricolor: Laranjeiras e Seus Marcos Históricos
O Fluminense construiu o primeiro estádio de cimento da América Latina, o Estádio de Laranjeiras, que sediou o Campeonato Sul-Americano de Seleções (atual Copa América) e os Jogos Olímpicos Latino-Americanos (atual Jogos Pan-Americanos). Esta construção pioneira, inaugurada em 1919, simbolizava não apenas o progresso estrutural do clube, mas sua visão de futuro para o esporte nacional.
O estádio foi palco da primeira partida oficial da Seleção Brasileira, em amistoso contra o Chile vencido por 6 a 0, estabelecendo uma conexão profunda entre o Tricolor e a história da seleção nacional que perduraria através das décadas.
As Eras de Domínio: Do Tetracampeonato à Glória Continental
A Hegemonia Inicial: Tetracampeonato Histórico (1906-1909)
Quando o futebol ainda engatinhava no país, o clube consolidou sua elite esportiva com o tetracampeonato carioca de 1906-1909. Esta sequência estabeleceu o Fluminense como a primeira grande dinastia do futebol brasileiro, atraindo multidões e inspirando jovens talentos por todo o Rio de Janeiro.
O futebol praticado naqueles primeiros anos, embora rudimentar comparado aos padrões modernos, já demonstrava a filosofia que se tornaria marca registrada do clube: jogo técnico, vistoso e ofensivo. Os campos de terra batida de Laranjeiras testemunharam o nascimento de uma cultura futebolística única.
O Tricampeonato e a Lenda de Henry Welfare (1917-1919)
O clube alcançou o tricampeonato em 1917-1919, época em que brilhou seu atacante inglês Henry Welfare, autor de 48 gols em 40 jogos na campanha do tricampeonato. Welfare tornou-se o primeiro grande ídolo estrangeiro do futebol brasileiro, estabelecendo padrões de artilharia que influenciariam gerações.
A Consagração Mundial: Copa Rio de 1952
O time campeão da Copa Rio de 1952 também conquistou o Campeonato Carioca de 1951, em uma das fases mais brilhantes da história tricolor. A competição de 1952 reuniu oito equipes de sete países, incluindo Corinthians e Fluminense do Brasil, com o Tricolor sendo campeão sobre o Corinthians.
Esta conquista transcendeu o aspecto esportivo, representando a afirmação do futebol brasileiro no cenário internacional e estabelecendo o Fluminense como protagonista desta evolução.
A Máquina Tricolor: O Auge do Futebol-Arte (1975-1977)

A Revolução de Francisco Horta e Rivellino
Rivellino foi comprado do Corinthians por 400 mil dólares, valor muito alto para a época. Em um sábado de Carnaval, 8 de fevereiro de 1975, ao ritmo da bateria da Mangueira, a torcida invadiu o Maracanã para a estreia de Rivellino contra seu ex-clube, em vitória com direito a hat-trick.
Durante o período da Máquina Tricolor, de 1975 a 1977, nada menos que 16 jogadores com passagens pela Seleção Brasileira vestiram a camisa do Fluminense. Esta concentração de talentos transformou o clube em verdadeira seleção, elevando o nível técnico do futebol nacional.
O Futebol Como Espetáculo
O time fez tanto sucesso que passou a excursionar pela Europa e encantar outras plateias de amantes do futebol arte. As apresentações na Europa não eram apenas jogos: eram demonstrações da arte brasileira de jogar futebol, com Rivellino executando seu famoso drible do elástico e encantando multidões.
O time foi bicampeão carioca em 1975 e 1976, campeão do Torneio de Paris em 1976 e campeão da Copa Viña del Mar em 1976, consolidando uma era que muitos consideram o ápice estético do futebol brasileiro.
O Casal 20 e o Título de 1984: Resiliência e Paixão
A Dupla Improvável
Romerito era o toque de classe que faltava para o time que conquistaria o Campeonato Brasileiro em 1984, com gols decisivos como contra o Vasco na decisão nacional. Assis decidiu dois Campeonatos Cariocas seguidos para o Fluminense sobre o maior rival: em 1983, no último instante, e em 1984, com uma cabeçada tão plástica que parecia cena do filme Matrix.
A alcunha “Casal 20” nasceu da soma dos números de suas camisas e da química perfeita entre os dois jogadores. Washington e Assis formaram uma dupla que transcendeu o futebol, tornando-se símbolo de determinação e raça tricolor.
O Brasileiro Mais Difícil da História
O Fluminense conquistou cinco títulos nacionais, sendo um deles o Campeonato Brasileiro mais difícil da história: a Taça de Prata de 1970, competição que contou com todos os craques tricampeões mundiais no México. A conquista de 1984 teve significado especial por ocorrer após anos de vacas magras, consolidando a filosofia de nunca desistir que define o clube.
A Geração de Ouro da Era Moderna (2010-2012)
Fred, Conca e o Bicampeonato Brasileiro
Conca foi o principal nome da conquista do Brasileirão de 2010, atuando em todas as 38 rodadas da competição, misturando classe com raça. Fred liderou o time nas conquistas dos Campeonatos Brasileiros de 2010 e 2012, consolidando-se como um dos maiores artilheiros da história do clube.
Esta geração demonstrou que o Fluminense poderia competir e vencer na era moderna do futebol brasileiro, adaptando sua tradição de bom futebol às exigências táticas contemporâneas.
A Glória Eterna: Libertadores 2023 e o Sonho Realizado
A Campanha Histórica
A campanha tricolor contou com vitórias sobre Olimpia nas quartas (2 a 0 na ida no Maracanã e 3 a 1 na volta), além de ter eliminado o Argentinos Juniors nas oitavas com empate em 1 a 1 em Buenos Aires e vitória por 2 a 0 na volta. Na primeira fase, o Fluminense liderou o Grupo D, que tinha River Plate, The Strongest e Sporting Cristal, com destaque para a goleada de 5 a 1 sobre o River no Maracanã.
O Fluminense tornou-se o primeiro time a vencer a Libertadores pela primeira vez, eliminando times campeões em todas as fases eliminatórias desde 1989, e o primeiro na história da competição a conquistar o título depois de ter enfrentado Boca Juniors e River Plate durante a competição.
A Final Inesquecível
Em uma tarde histórica no Maracanã, o Fluminense venceu o Boca Juniors por 2 a 1, com gols de Germán Cano e John Kennedy. John Kennedy atuou por 21 minutos, o suficiente para aos 9 minutos da prorrogação anotar o gol do título.
Germán Cano foi o artilheiro da Libertadores com 13 gols, estabelecendo-se como um dos grandes ídolos do Fluminense em todos os tempos. O atacante argentino representou a união perfeita entre técnica sul-americana e paixão tricolor.
Recordes e Estatísticas Memoráveis
O Fluminense teve mais posse de bola do que seus adversários em cada uma das 13 partidas disputadas na edição, com média de 60% de posse. Foram 13 jogos, 8 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, com 24 gols marcados e 12 sofridos.
A Galeria dos Imortais: Ídolos e Lendas Tricolares
Castilho: O Goleiro Sacrificado
Castilho é o maior goleiro da história do Fluminense, tendo atuado no clube por mais de 15 anos, defendendo mais de 700 jogos. Castilho, o goleiro que sacrificou parte do corpo pelo clube, é figura lendária.
Sua dedicação transcendeu o profissionalismo, tornando-se exemplo de amor incondicional ao clube. As defesas impossíveis e a liderança silenciosa fizeram de Castilho o padrão de excelência para todos os goleiros que vieram depois.
Rivellino: O Maestro da Máquina
Um dos maiores nomes do futebol brasileiro nos anos 70, Rivellino foi o maestro da Máquina Tricolor, com gols antológicos como o famoso elástico contra o Vasco, eternizando-se em todas as antologias do futebol brasileiro.
Waldo: O Rei dos Artilheiros
Waldo é o maior artilheiro da história do clube, centroavante clássico que atordoava adversários marcando gols de todos os jeitos e formas, sendo lapidado nas Laranjeiras e indo brilhar na Europa.
Félix: O Guardião Tricampeão Mundial
Félix chegou ao Tricolor em 1968, permanecendo até 1978, sendo campeão do Torneio Gomes Pedrosa em 1970 e fazendo parte da Máquina Tricolor entre 1975 e 1977, além de ter sido goleiro titular da seleção brasileira tricampeã mundial em 1970.
Telê Santana: O Fio de Esperança
Telê Santana honrou a camisa do Fluminense durante quase uma década, tornando-se o terceiro jogador que mais atuou e o quinto maior artilheiro da história do clube. Sua dedicação como jogador prenunciava a grandeza que alcançaria como técnico da Seleção Brasileira.
Patrimônio de Conquistas: Os Títulos Tricolores

Títulos Continentais e Internacionais
| Competição | Títulos | Anos |
|---|---|---|
| **Copa Libertadores da América** | 1 | 2023 |
| **Recopa Sul-Americana** | 1 | 2024 |
| **Copa Rio (Mundial)** | 1 | 1952 |
| **Taça Olímpica** | 1 | 1949 |
Títulos Nacionais
| Competição | Títulos | Anos |
|---|---|---|
| **Campeonato Brasileiro** | 4 | 1970, 1984, 2010, 2012 |
| **Copa do Brasil** | 1 | 2007 |
| **Torneio Rio-São Paulo** | 2 | 1957, 1960 |
| **Campeonato Carioca** | 33 | Último em 2023 |
O Fluminense é o nono clube com mais partidas realizadas e o décimo com mais pontos conquistados e vitórias na história do Campeonato Brasileiro.
Governança e Estrutura Institucional
A Estrutura Democrática de Poder
Da leitura do estatuto social do Fluminense, depreende-se que são quatro os poderes do clube: Assembleia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Diretor e Conselho Fiscal, além da previsão da existência de um Conselho Consultivo.
A Assembleia Geral, constituída pelos associados, detém a competência de eleger e destituir o presidente e vice-presidente geral, bem como os membros do Conselho Deliberativo, decidir sobre extinção e fusão do clube, e deliberar sobre reformas estatutárias.
O Conselho Deliberativo e a Fiscalização
Ao Conselho Deliberativo compete eleger os membros do Conselho Fiscal, discutir e votar o orçamento anual, julgar as contas anuais do Conselho Diretor e discutir sobre propostas financeiras que onerem o patrimônio imobiliário do clube.
A Gestão Executiva
É responsabilidade do Conselho Diretor dirigir o clube, nomear os diretores e contratar auditoria externa, com o Presidente gozando de prerrogativas individuais como contratar, punir e demitir atletas profissionais, treinadores e empregados.
O Fluminense é uma sociedade civil de caráter desportivo, considerada de utilidade pública pelo Decreto nº 5044, de 28 de outubro de 1926, com personalidade jurídica distinta dos sócios.
Xerém: A Fábrica de Craques
O Celeiro Tricolor
A filosofia da “garotada de Xerém” vai além do início do funcionamento do Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras em 1999, com o Fluminense empilhando títulos nas categorias de base, como vitórias na Copa São Paulo de Futebol Júnior em 1971, 1973, 1977, 1986 e 1989.
O celeiro de craques revelou nomes como Thiago Silva, Marcelo e Fabinho, que ainda estão em atividade, além de Roger Flores e Carlos Alberto. Esta capacidade de formar talentos tornou-se não apenas tradição, mas ativo estratégico fundamental para a sustentabilidade do clube.
Legado e Projeção Internacional
A Dimensão Continental
O Fluminense jogou em 51 países diferentes de todos os continentes, exceto a Oceania, apresentando como maiores destaques a conquista da Copa Libertadores de 2023, da Recopa Sul-Americana de 2024 e os vice-campeonatos da Libertadores em 2008 e da Sul-Americana em 2009.
Levantamento da revista Placar em 2017 apontou o Fluminense como o clube brasileiro com o segundo melhor aproveitamento contra times europeus, com 65,7% de aproveitamento em 143 jogos disputados contra 108 times de 22 países.
A Frase Imortal de Nelson Rodrigues
O ilustre escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, tricolor apaixonado, cunhou a frase que define a essência do clube: “Grandes são os outros, o Fluminense é enorme”. Esta declaração transcende o exagero poético, capturando a dimensão histórica e emocional de uma instituição que ultrapassa os limites do esporte.
Conclusão: Mais Que um Clube, Uma Instituição Secular
O Fluminense Football Club representa a síntese perfeita entre tradição e modernidade no futebol brasileiro. Do pioneirismo de Oscar Cox à glória continental de 2023, passando pela Máquina Tricolor e pelo Casal 20, o clube construiu uma narrativa única de superação, técnica e paixão.
Considerado pela FIFA em 1949, através do presidente Jules Rimet, como “a organização esportiva mais perfeita do mundo”, o Tricolor das Laranjeiras continua honrando seu legado centenário, provando que a grandeza não se mede apenas em títulos, mas na capacidade de emocionar, inspirar e perpetuar valores através das gerações.
A conquista da Libertadores de 2023 não foi apenas um título: foi a confirmação de que os sonhos, quando alimentados pela perseverança e pela paixão genuína, eventualmente se realizam. Como diz o hino tricolor: “Pois quem espera sempre alcança”. E o Fluminense, após 121 anos de espera, alcançou sua glória eterna na América.
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Engenheiro, Técnico, com foco em Engenharia de Telecomunicações e sistemas de comunicação via satélite. Casado, Pai de 2 filhos. Cidadão de bem e brasileiro.
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